Os aliados europeus de Donald Trump também saíram vitoriosos com o regresso do antigo presidente norte-americano à Casa Branca. E, como o algodão não engana, basta verificar quem foram os líderes que se apressaram a congratular o magnata: o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e até mesmo o presidente do partido de extrema-direita Chega, André Ventura.
"A vitória de Trump dá agora um impulso enfático aos países que têm procurado opor-se à corrente dominante da União Europeia (UE) e retirar mais poderes soberanos aos burocratas de Bruxelas. Talvez o mais importante seja o facto de sentirem cada vez mais que têm maior cobertura política para contrariar Bruxelas em políticas que vão desde as sanções contra a Rússia às reformas ecológicas", escreveu o Politico, esta quinta-feira.
De facto, o maior aliado europeu do magnata, Orbán, foi dos primeiros governantes a saudar a vitória de Trump, que descreveu ser "muito necessária para o mundo". O responsável, que prometeu abrir várias garrafas de champanhe se o republicano vencesse, poderá fazê-lo justamente esta quinta-feira, diante de vários líderes da União Europeia (UE), na cimeira que decorrerá em Budapeste.
É que, na ótica do chefe do Governo húngaro, que elogiou Trump repetidamente ao longo do último ano, o regresso do magnata à Casa Branca poderá "rejuvenescer a extrema-direita", já que, como considerou a King’s College London, "a retórica e a agenda política de Trump defendem abertamente as ideologias de extrema-direita, promovendo a normalização de medidas como o controlo extremo da imigração, o aumento do corporativismo através de figuras como Elon Musk e a intensificação dos ataques aos direitos LGBTQ+".
"Esta guerra cultural, que tem como alvos frequentes os direitos das minorias e das pessoas LGBTQ+, tem eco nos líderes europeus de tendência autoritária, que muitas vezes adotam valores e objetivos políticos semelhantes. Revela uma sincronização de ideias do outro lado do Atlântico que vai além do mero alinhamento político e se traduz numa afinidade ideológica mais profunda, enraizada em valores reacionários", complementou.
Com a ascensão dos valores conversadores, há um reforço da "narrativa sobre a renovação de um Ocidente diferente, onde Trump é o líder e o Ocidente o segue", de acordo com o diretor de investigação do Instituto Alemão para Assuntos Internacionais e de Segurança, Nicolai von Ondarza, citado pelo Politico.
Perante a fragilidade do governo francês e a queda da coligação governamental alemã, os líderes conservadores têm, agora, espaço para ditarem o tom político da UE e, com a ajuda de Trump, trabalhar no sentido de suspender o fluxo de fundos destinados à Ucrânia, assim como rever as regras para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e regular as redes sociais.
Apesar de a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ter ressalvado que "a UE e os Estados Unidos são mais do que aliados", tendo apelado ao trabalho "conjunto numa agenda transatlântica forte que continue a dar resultados" para os 800 milhões de cidadãos que os unem, a verdade é que Trump tomará posse com uma força renovada, uma vez que voltou a controlar o Senado e, muito possivelmente, a Câmara dos Representantes. Se o primeiro mandato do magnata foi imprevisível, o segundo é, também, uma incógnita.
"Com um terreno fértil para a expansão da extrema-direita que não se via desde a Segunda Guerra Mundial, a influência dos Estados Unidos - impulsionada em grande parte pelos meios de comunicação social - poderá amplificar estas mudanças. [...] O mundo está a observar atentamente, pois as implicações desta eleição podem remodelar a extrema-direita europeia de uma forma nunca antes vista", apontou a King’s College London.
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