Kyiv, que pediu a suspensão da Rússia da OSCE, anunciou que Sybiga viajou hoje para Malta, onde discursará, na quinta-feira, na sessão plenária do Conselho Ministerial da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) e manterá reuniões bilaterais com representantes "de países parceiros".
"Os principais temas do discurso e dos debates serão a agressão russa contra a Ucrânia, as suas implicações para a segurança no âmbito da OSCE e não só, a necessidade de alcançar uma paz global", sublinhou o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano num comunicado, sem emitir qualquer comentário sobre a presença aguardada de Lavrov.
Segundo a diplomacia russa, Serguei Lavrov, que está sob sanções europeias, estará em Malta na quinta e sexta-feira para participar nesta reunião, o que fará dela um dos raros eventos internacionais em que estarão juntos altos responsáveis dos dois países.
A esmagadora maioria dos 57 Estados-membros da OSCE condenou a agressão russa à Ucrânia e está a financiar a resistência de Kiev ao Exército russo.
A OSCE foi fundada na era da Guerra Fria, como uma plataforma de diálogo Leste-Oeste.
A visita de Lavrov ocorre num contexto de especulações sobre o lançamento de um possível processo de paz em torno da Ucrânia, militarmente apoiada pelos países da União Europeia (UE), e a um mês e meio do regresso à Casa Branca do republicano Donald Trump, que faz Kiev temer o fim da vital ajuda norte-americana.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, foi o primeiro dirigente ocidental a retomar o contacto com o Presidente russo, Vladimir Putin, em meados de novembro, numa chamada telefónica, a primeira entre os dois líderes desde o final de 2022.
Essa iniciativa de Berlim provocou a ira de Kyiv -- considerando o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que Scholz tinha aberto a "caixa de Pandora" - e a incompreensão de outros Governos europeus, determinados a continuar a armar a Ucrânia para que, chegado o momento, Kiev possa enfrentar Moscovo à mesa das negociações numa posição de força.
Em Malta, "não haverá conversações" com Lavrov, indicou já o chefe da diplomacia polaca, Radoslaw Sikorski, acusando Moscovo de "violar claramente" as regras da OSCE.
"A questão é saber se a Rússia, enquanto Estado agressor, deve continuar a participar em organizações" como a OSCE, acrescentou.
Embora Lavrov possa estar presente, a sua porta-voz, Maria Zakharova, não estará, uma vez que o seu visto, emitido para a ocasião, acabou por ser hoje cancelado pelas autoridades maltesas, segundo Moscovo.
A última visita de Lavrov à UE foi à Suécia, em dezembro de 2021, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, por ocasião de outra reunião da OSCE.
Desde que Putin ordenou ao seu Exército que atacasse a Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, as comunicações diplomáticas entre Lavrov e o Ocidente têm-se limitado sobretudo às reuniões da ONU em Nova Iorque.
No final de 2023, o chefe da diplomacia russa deslocou-se à Macedónia do Norte, país europeu membro da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental), para outra reunião da OSCE.
A sua presença em Skopje levou vários países - Ucrânia, Estados Bálticos e Polónia - a boicotar a reunião ministerial.
A grande maioria dos outros participantes confrontou Lavrov, condenando um após o outro uma "agressão injustificada e injustificável", embora o ministro russo não tenha ouvido tudo, abandonando a sala de reuniões em várias ocasiões, depois de acusar a OSCE de se encontrar "num estado lamentável" e de se ter tornado um "apêndice" da NATO e da UE.
Em julho passado, Moscovo suspendeu a sua participação na Assembleia Parlamentar da OSCE, classificando-a como "russófoba".
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