Vítima de uma moção apoiada pela esquerda e pela extrema-direita, Barnier, de 73 anos, estava a um dia de completar exatamente três meses no cargo.
O Presidente Emmanuel Macron tinha-o nomeado a 5 de setembro como solução para o impasse político de quase dois meses após as eleições antecipadas de julho, que deixaram a Assembleia Nacional dividida em três blocos irreconciliáveis.
Segundo a agência espanhola EFE, descrito pelos seus detratores como distante e rabugento, o experiente político esforçou-se por criar uma imagem pública de homem afável, mas falhou a sua principal missão: criar consensos para além do seu campo ideológico de centro-direita.
"Vou liderar uma política que não será apenas de esquerda", disse numa entrevista dias depois da sua nomeação.
O seu discurso calmo procurava transmitir bom senso, prudência e estabilidade num país que, até agora, teve três primeiros-ministros em 2024 (Élisabeth Borne, Gabriel Attal e o próprio Barnier).
Em setembro, a imprensa rotulou o antigo ministro de Jacques Chirac e de Nicolas Sarkozy de "o conciliador", na esperança de que aplicasse as capacidades de negociação adquiridas no processo do Brexit ao campo minado em que se tornou a política francesa.
No entanto, após a nomeação de um governo ideologicamente monocórdico, com vários ministros do seu partido, os republicanos conservadores (que obtiveram apenas 5% nas eleições legislativas de junho), a questão da representatividade foi posta em cima da mesa.
O estado de espírito e a imagem pública do "Senhor Brexit" diminuíram de 45% dos eleitores satisfeitos com a sua nomeação em setembro para 36% em novembro.
Na primeira prova de fogo do governo, a aprovação do orçamento para 2025, o primeiro-ministro foi queimado pela falta de apoio parlamentar.
A extrema-direita de Marine Le Pen, que tinha dado a sua aprovação implícita à nomeação de Barnier, passou a sentença apoiando a moção da esquerda. As concessões do primeiro-ministro às exigências de Le Pen na negociação do orçamento para 2025 chegaram demasiado tarde.
Natural da região alpina de Savoie, Barnier tem um longo percurso político, que começou há meio século com um cargo local na sua terra natal e que o levou a ser deputado nacional aos 27 anos e, mais tarde, senador.
Com o regresso do centro-direita ao poder após 14 anos de socialismo, Jacques Chirac nomeou-o ministro delegado para os Assuntos Europeus em meados dos anos 1990, até se mudar para Bruxelas para ser comissário europeu da Política Regional de 1999 a 2004.
Regressou a Paris para ser ministro dos Negócios Estrangeiros de 2004 a 2005, e depois foi ministro da Agricultura de 2007 a 2009 (com Nicolas Sarkozy como Presidente).
Regressou à capital europeia para desempenhar o cargo de vice-presidente da Comissão Europeia responsável pelo Mercado Interno e Serviços (2010-2014).
Entre 2016 e 2020, assumiu as rédeas das negociações com Londres em nome dos europeus, na sequência da votação do Brexit.
Na sua última entrevista, na véspera da moção, a partir do palácio de Matignon, sede do chefe do governo, o veterano político quis enviar uma mensagem final de desprendimento, ignorada pelos deputados.
"Os ouros que nos rodeiam, os veículos oficiais, os ouros da República, não me interessam, não me interessam, não sou eu que estou em causa. O que acontece agora transcende-me", disse.
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