"O que significa ser equidistante, Sr. Embaixador? Ignorar que Maduro perdeu as eleições por mais de 40% dos votos e se recusou a publicar os resultados? Ignorar que 2.000 venezuelanos foram presos, entre eles 198 crianças e adolescentes?", questionou a opositora na sua conta do Instagram, sem referir o nome do diplomata.
Na mesma rede social, Maria Corina Machado questionou ainda se ser equidistante é "ignorar que torturaram, abusaram sexualmente e assassinaram os detidos" e "ignorar que neste momento há asilados na Embaixada da Argentina, sob proteção brasileira, que estão a ser assediados e os deixam sem eletricidade, água e alimentos".
Acrescentou se significa ignorar ainda que "há crianças e jovens presos e torturados, porque protestaram pacificamente ou porque simplesmente caminhavam pela rua".
"Você recomenda aos seus compatriotas que sejam equidistantes entre a justiça e a corrupção, entre o bem e o mal, entre as vítimas e os criminosos. A equidistância não existe na Venezuela de hoje. Não há neutralidade possível, nem apelo à ignorância sobre o que está a acontecer", afirmou.
Maria Corina Machado sublinhou que "a sociedade venezuelana não está dividida sobre estes temas" e que em 28 de julho (eleições presidenciais) ficou demonstrado que "existe um povo unido que anseia viver com dignidade, justiça e liberdade, e que enfrenta corajosamente uma tirania criminosa na sua fase terminal".
"Quem decidir se calar perante esta realidade, decidiu escolher o lado do opressor. Os venezuelanos e a história julgarão implacavelmente", sublinhou.
A líder opositora venezuelana juntou aos seus questionamentos uma carta de Mariana, uma jovem de 16 anos, detida um dia depois das presidenciais, que diz à sua mãe que "prefere suicidar-se antes que continuar sofrendo".
Vários utilizadores do Instagram questionaram também as declarações do embaixador, alguns deles com mensagens em língua portuguesa.
Em 30 de novembro último, o embaixador de Portugal na Venezuela recomendou que a comunidade portuguesa permaneça tranquila e "sólida nos seus propósitos", mas equidistante de questões que dividam o país, onde Maduro foi proclamado Presidente reeleito em julho, um resultado contestado pela oposição.
João Pedro Fins do Lago falava na Casa Portuguesa de Arágua, em Maracay, no encerramento da 3.ª sessão do Conselho Social da Venezuela, que reuniu diplomatas, conselheiros das comunidades, cônsules-gerais e honorários, e dirigentes do movimento associativo português.
"A comunidade deve permanecer trabalhadora, tranquila, equidistante de questões que podem ser de grande debate na Venezuela, muito candentes [...]. Deve permanecer equidistante relativamente a essas questões que podem dividir mais o país. Deve permanecer sólida nos seus propósitos, que são trabalhar e manter as suas famílias unidas, prósperas e a produzir", disse.
Em declarações à agência Lusa, João Fins do Lago explicou que a comunidade lusa está "perfeitamente integrada na Venezuela, perfeitamente consciente dos desafios que existem no país e com uma memória muito viva daquilo que foram os últimos cinco, seis anos da sua permanência na Venezuela".
"Vejo uma comunidade que está muito empenhada em trabalhar, que está preocupada com a sua proteção, com as suas famílias, mas ao mesmo tempo muito motivada para ficar num país que deseja que seja próspero, onde se encontrem diálogos que permitam, de facto, avançar por caminhos de paz", afirmou.
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