"Vamos evoluir, mas não se cria agendas para diálogo, para negociações como querem que seja unilateralmente. Existe o primeiro encontro em que as pessoas depois dizem quais são as preocupações, isso é que fabrica a agenda, mas se você está a fazer agenda, essa agenda é sua. Quem lhe garante que o outro quer", alertou o Presidente de Moçambique durante a receção dos reitores das universidades moçambicanas, em face à tensão pós-eleitoral no país.
Filipe Nyusi defendeu que o encontro anteriormente agendado com os quatro candidatos presidenciais visa ouvir as suas preocupações, lembrando que se trata de um modelo de diálogo criado para "conseguir algumas ideias" face às manifestações e paralisações convocadas por Venâncio Mondlane, que contesta resultados eleitorais.
"Mas houve exigências de agenda (...) Convidei os quatro candidatos presidenciais, o figurino era quatro mais um, houve pensamentos diferentes, se o figurino era melhor ou não, mas não é com isso que estou preocupado, porque quando se faz diálogo existem muitos passos", apontou o chefe de Estado, que nega imposições de agenda e defendendo que cada candidato presidencial e partidos políticos têm suas preocupações.
"Quando discutimos os nossos problemas somos repetentes (...) Então tem que se encontrar um modelo em cada momento, e não repetir modelos, por isso mesmo que não veio um dos convidados, os que vieram precisaram isto mas depois acabamos por estar a fazer encontros dirigidos.Já me reuni com todos de forma individual e estou a ouvir preocupações de cada um que não são iguais", apontou.
No mesmo discurso, Filipe Nyusi apelou para o fim da violência entre manifestantes e polícias, alertando igualmente que "há pessoas" que confirmaram às autoridades moçambicanas estarem a financiar protestos.
"Há pessoas com valores a distribuir, alguns até pararam nas esquadras e confirmaram que estão a dividir comidas para as pessoas se manifestarem. Não estamos a proibir de darem comida, se há essa capacidade de alimentar pessoas seria bom", disse.
Venâncio Mondlane exigiu em 22 de novembro a eliminação imediata dos processos judiciais de que é alvo, movidos pelo Ministério Público moçambicano, e a sua participação virtual como condição para participar no encontro com o Presidente da República.
No documento submetido à Presidência da República e à Procuradoria-Geral da República (PGR) contendo termos de referência e propostas de agenda, Mondlane condicionou a reunião agendada para terça-feira, entre o chefe de Estado e os quatro candidatos presidenciais, à "libertação de todos os detidos no âmbito das manifestações" por si convocadas, pedindo na sequência "garantias de segurança política e jurídica para atores e intervenientes no diálogo".
Mondlane apelou na segunda-feira a uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, a partir de hoje, em "todos os bairros" de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08:00 às 16:00 (06:00 às 14:00 em Lisboa).
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados por Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia, que já provocaram pelo menos 76 mortos.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
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