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Vozes ao Minuto: "Benfica? Pesou muito Vieira ter ido ao Brasil para trazer Jorge Jesus"

Vozes ao Minuto: Em entrevista exclusiva concedida para o Vozes ao Minuto, Márcio Sampaio, antigo elemento da equipa técnica de Jorge Jesus, passou em revista o que foi uma ligação de 15 anos de trabalho. De Braga ao Benfica, passando por Alvalade, Brasil e Arábia, o preparador físico guarda boas memórias desse período.

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© Reprodução Instagram Márcio Sampaio

Rodrigo Querido
22/10/2024 07:10 ‧ 22/10/2024 por Rodrigo Querido

Desporto

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Márcio Sampaio está no futebol desde 2004/05 e 15 anos dessa longa carreira como preparador físico estão ligados a Jorge Jesus. O último projeto que envolveu ambos foi na Arábia Saudita ao serviço do Al Hilal, ligação que se rompeu no verão passado.

 

Em entrevista exclusiva concedida ao Desporto ao Minuto, Márcio Sampaio passou em revista o que foi uma relação de 15 anos de trabalho e também de muitas conquistas. De Braga ao Benfica, passando por Alvalade, Brasil e Arábia, o preparador físico guarda boas memórias desse período.

O técnico, de 45 anos, revela as razões que o levaram a deixar a Arábia Saudita e regressar a Portugal. Pese embora o fim da ligação com Jorge Jesus, Sampaio não descarta um reencontro com o amadorense... caso se trate do projeto ideal, quer a nível pessoal, quer a nível profissional.

Eu cresci sem o meu pai presente e não queria que isso acontecesse com a minha filha

Passar 15 anos a trabalhar com Jorge Jesus é uma vida. Porque quis deixar a equipa técnica dele?

Isto tem a ver com várias questões, mas uma delas, ou a principal, tem a ver com a questão familiar que pesa sempre aqui, porque tenho uma filha de quatro anos. A ausência dela custava-me bastante. Então foi mais uma situação familiar. Obviamente que, atrás disto, há o desgaste de muitos anos em alta competição, com uma exigência grande, em que chegamos a um momento em que também precisamos de descansar um pouco desta rotina que acaba por ser exigente. E trabalhando com quem trabalhamos, mais exigente é. Mas há aqui um grande peso da questão familiar.

E se a sua filha não tivesse nascido há quatro anos, hoje em dia ainda estaria a trabalhar com Jorge Jesus? Ou preferia ter cortado essa ligação para tentar um projeto a solo?

É uma pergunta pertinente, mas também difícil de responder. Não sei, provavelmente até teria continuado, porque, no fundo, aqui o que pesa mesmo, ou o que pesou mesmo, foi a minha filha. Eu cresci sem o meu pai presente e não queria que isso acontecesse com a minha filha. E quando eu tomo a decisão, tomo-a com base nisso. E entre coisas na balança, entre o deve e o haver, pesou sempre mais a questão de ter a minha filha a perguntar-me quando é que eu regressava ou porque é que ia embora. Isso são questões que nos custam. Quem está longe sabe o que eu estou a falar. Mas provavelmente não tendo a minha filha, acho que teria continuado.

Começou a trabalhar com Jorge Jesus em Braga em 2008/09 e voltou a juntar-se à equipa técnica em 2015/16 no Sporting. Qual o momento mais desafiante de todos estes anos de ligação?

São vários, mas eu acho que o momento em que eu comecei a trabalhar com ele em Braga acaba por ser o mais marcante. Eu venho do que era o Olhanense, de II Liga, e passo para um contexto de I Liga num grande clube, com uma exigência forte. Esse ano era uma exigência muito forte, pela aposta que o clube tinha feito nele. Eu passei de uma realidade completamente distinta para outra de um patamar super elevado. Não conhecendo o Jorge tão bem, tornava-se ainda mais exigente e mais desafiador também. Eu considero que o Sporting de Braga foi desafiante. Nos outros anos tivemos desafios diferentes em cada contexto.

Notícias ao Minuto Márcio Sampaio no Sporting© Filipe Amorim/Global Imagens  

E como surgiu esse convite para integrar a equipa técnica do Jorge Jesus?

Eu tenho a felicidade de me cruzar com aquela pessoa que foi o meu padrinho no futebol, que se chama Fernando Belo. Era um fisioterapeuta que estava no Olhanense, cujo pai já tinha sido fisioterapeuta na seleção, e que no Farense se tinha cruzado com o Jorge Jesus enquanto jogador. Criaram uma grande amizade e o Jorge Jesus, que precisava de uma pessoa para fazer ali a transição dos atletas lesionados, pediu-lhe o conselho de alguém. E ele sugeriu-me a mim. Foi a partir daí que eu tive a felicidade de me cruzar com o Jorge.

Depois do enorme sucesso no Brasil com o Flamengo, dá-se o regresso a Portugal pela porta do Benfica. Era um desafio desejado por todos? Sobretudo depois do que foram os três anos desta equipa técnica ligada ao Sporting...

Não existia uma unanimidade em voltar ao Benfica. Havia alguns elementos da equipa técnica que não queriam regressar, exatamente por essas razões [de terem estado no Sporting três épocas]. Ainda por cima nós estávamos a viver um período de plena harmonia entre os jogadores, a equipa técnica e adeptos no Brasil. Estava tudo a correr muito bem, nós estávamos num grande clube e o Jorge era extremamente adorado lá. Alguns elementos gostavam de regressar a Portugal, outros nem por isso. Os alertas estavam lá todos. Toda a gente dizia que não deveríamos voltar ao lugar onde já tínhamos estado, onde já tínhamos sido felizes. Mas pesou muito, na minha opinião, aquilo que aconteceu do presidente Luís Filipe Vieira que foi até ao Brasil para o contratar. O Jorge sentiu que realmente havia condições para que ele regressasse ao Benfica.

Benfica? Até hoje não conseguimos identificar a 100% o que falhou. Falhou muita coisa

Nas primeiras palavras após este regresso ao Benfica, Jorge Jesus disse que o Benfica ia jogar o triplo. Isso ficou longe de acontecer. O que faltou para transportar para Lisboa todo aquele que foi o amplo sucesso ao serviço do Flamengo?

É uma boa questão, mas ainda hoje eu não consigo identificar apenas isso como um problema. Ou seja, acho que foi um conjunto de coisas. Porque, quando ainda estávamos no Flamengo e se colocava à hipótese de virmos para o Benfica, o Jorge questionou-nos qual era a nossa vontade e a nossa ideia. Uma das coisas que nós dizíamos, e os colegas lhe diziam, era que se nós, e ele principalmente, nos outros clubes onde tinha estado, tínhamos efetivamente conseguido colocar as equipas a jogar a bola, se o Benfica lhe desse condições financeiras para contratar os jogadores que ele pretendia, ele iria dar de calcanhar. Todos sabemos que o Jorge coloca as equipas a jogar bom futebol. A verdade é que não houve um único fator a influenciar esse insucesso. Até hoje não conseguimos identificar a 100% o que falhou. Falhou muita coisa. A equipa técnica tem sempre a culpa. Falo por mim quando digo que falhou sempre alguma coisa. Podíamos ter dado mais. Não podemos imputar responsabilidade aos jogadores. A direção deu-nos todas as condições, o clube tem todas as condições necessárias para fazermos um bom trabalho. Provavelmente, o Jorge também não foi ajudado pela equipa técnica. A verdade é que não é o único motivo. O que eu sei é que, efetivamente, as coisas começam a descambar muito na primeira eliminatória de acesso à Liga dos Campeões [contra o PAOK, com uma derrota por 2-1]. A partir daí, aquilo que era a esperança dos adeptos em relação ao que podíamos fazer… Começou aí o 'descalabro'. Por exemplo, a questão da Covid-19, que nunca é desculpa, é uma realidade. Era uma realidade para outros clubes, mas a verdade é que nós fomos dos que sofremos mais. Não sendo essa a maior desculpa, acho que foi tudo. Não conseguimos e temos de aceitar que não conseguimos passar a mensagem, que não conseguimos fazer com que aquela equipa pudesse efetivamente render o que esperávamos. Nós saímos de uma situação confortável para uma situação desconfortável, em que a ideia era que a equipa rendesse e não conseguimos.

A forma como saíram do Benfica foi toda ela recheada de polémica, chegando mesmo a dizer-se que alguns jogadores 'fizeram a cama' à equipa técnica. O que realmente aconteceu?

A verdade é que nós saímos logo a seguir um mau resultado contra o FC Porto [derrota por 3-0 no Estádio do Dragão]. Obviamente o mau resultado no Porto, da maneira como foi, acaba por ter alguma influência. Os resultados não estavam a ser bons e num clube que é exigente e que luta para ganhar, isso nota-se mais. O ambiente nunca é bom. E, depois desse conjunto de coisas, não haver uma simbiose entre adeptos, equipa, treinador e equipa técnica, acabou por precipitar um bocado essa nossa saída. Temos consciência de que todos nós todos podíamos ter feito mais e melhor. Mas olhamos também para aquilo que foi a nossa temporada no Benfica, aquilo que fizemos até lá… Os próprios jogadores depois acabam por falar sempre bem do treinador, acabam por dizer que realmente aprenderam muito com ele e transmitiram-no logo ao dizer que ele foi um dos maiores treinadores que apanharam. Mas as coisas não resultaram e essa é a realidade.

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