Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República, André Ventura considerou que o Governo está a aproveitar a escalada de tensão nos protestos dos bombeiros na manhã para para "atirar lenha para a fogueira" e dizer que "já não vai negociar nada e já não vai chegar a acordo nenhum".
"É mesmo querer que os bombeiros ou deixem de trabalhar, ou aumentem os níveis de protestos", disse.
Ventura enfatizou que a indignação dos bombeiros tem como responsável o primeiro-ministro, Luís Montenegro, embora apelando aos bombeiros para que "cumpram a lei" e comuniquem às autoridades competentes a realização dos protestos.
"Nós compreendemos perfeitamente as razões da indignação destes bombeiros. E isto tem um responsável. Este responsável é o primeiro-ministro (...) Quando há muita indignação, há muito protesto. Porém, os bombeiros chegarão a melhor resultado se o fizerem cumprindo a legislação que temos em Portugal, que é uma legislação que até nem é muito difícil. (...) Acho que os bombeiros deviam fazer uma grande manifestação. Podia ser aqui mesmo, no parlamento. Podem comunicá-lo. E podem mostrar ao país a sua indignação", disse.
André Ventura defendeu ainda que os portugueses precisam de compreender o que diz ser uma mudança significativa a nível sindical neste setor, afirmando que "os sindicatos dominados por forças antigas de esquerda" já não representam grande parte dos bombeiros e que estes profissionais se organizam em movimentos inorgânicos.
"É por isso que eles continuarão a insubordinar-se face aos seus sindicatos, porque eles já não os representam na maior parte dos casos. Porque são sindicatos dominados pelas antigas forças que dominavam o sindicalismo português, que não representam estes trabalhadores, e onde eles já não se sentem representados", sublinhou.
O líder do Chega mostrou-se ainda "firmemente convencido" de que os sapadores portugueses são dos "mais mal pagos da Europa", com um "vencimento que não dá para pagar uma casa em Lisboa".
"Isto tem que ser abordado para não termos uma profissão que ou deixa de ter membros, o que também é mau para nós, ou a jusante estará sempre a protestar, o que também não é bom para nós", acrescentou.
André Ventura reconheceu que há "boas relações entre o Chega e os bombeiros", uma vez que estes profissionais, disse, "compreendem a traição que o sistema político lhes fez nos últimos anos".
O presidente do Chega voltou ainda a referir o protesto de sexta-feira com tarjas na fachada do parlamento para referir que são medidas como o fim do corte salarial aos políticos que "instiga os setores da sociedade a perceberem a injustiça de que são alvo".
"Não são só os bombeiros que se sentem indignados. Muitos outros setores sentem-se indignados por ver que os políticos resolveram os seus problemas antes de resolver os problemas deles. Era algo que era previsível", defendeu.
Também sobre o protesto de sexta-feira, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, protestou no início do plenário de hoje contra a expressão utilizada pelo secretário-geral do PS na semana passada, quando qualificou de "bando de delinquentes" os deputados desta bancada que colocaram pensões na fachada do parlamento contra o fim dos cortes nos salários dos políticos.
"Não toleramos, não admitimos a sua falta de respeito, hoje poderia pedir desculpa a este grupo parlamentar", disse, num apelo que não mereceu qualquer resposta por parte de Pedro Nuno Santos ou da bancada do PS.
Apenas o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, interveio para corrigir a figura regimental usada -- o protesto em vez da interpelação - e avisado os deputados do Chega que não admitia interrupções quando estava no uso da palavra, nem sequer com apartes.
[Notícia atualizada às 17h21]
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