No entanto, durante o debate no parlamento sobre a constituição de uma comissão de inquérito à tutela política da gestão do Grupo Efacec, o PSD abriu a porta à viabilização da proposta da Iniciativa Liberal (IL), com o deputado Bruno Ventura a garantir que o partido "fará tudo para apurar a legalidade" do processo.
No início deste debate, o deputado da Iniciativa Liberal (IL) Carlos Guimarães Pinto salientou que o custo da nacionalização da Efacec, em 2020, poderá ascender a 564 milhões de euros de acordo com o relatório elaborado pelo Tribunal de Contas.
"São cinco vezes mais do que os prejuízos da Santa Casa, que justificaram uma comissão parlamentar de inquérito. São 140 vezes mais do que o custo do tratamento das gémeas que justificou outra comissão parlamentar de inquérito", referiu, defendendo que é altura de se perceber "exatamente o que aconteceu na Efacec".
Após esta intervenção, o deputado do Chega Carlos Barbosa disse que o partido concorda com a criação de uma comissão de inquérito à Efacec e "que sejam apuradas todas as questões, toda a verdade, doa a quem doer".
Também o líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, anunciou que o partido vai votar a favor da proposta da IL, considerando que é a forma de "esclarecer cabalmente os portugueses dos erros cometidos neste processo manchado pela opacidade".
Por sua vez, o deputado do PSD Bruno Ventura criticou a nacionalização, salientando que, apesar de ter sido feita em nome da salvação da empresa, houve "áreas de negócios encerradas, perderam-se 600 postos de trabalho e os portugueses jamais recuperarão o dinheiro dos seus impostos".
"Aos dias de hoje, perante a dura realidade, poderíamos esperar uma nova reflexão, ou no mínimo ponderação na forma como o PS olha para a intervenção do Estado na economia. Mas nada disso", criticou, sendo posteriormente questionado pelo deputado do Chega Filipe Melo sobre o que é que o PSD fará para apurar as responsabilidades neste negócio.
"Tudo faremos para apurar a legalidade deste processo", respondeu.
Pelo PS, o deputado André Pinotes defendeu a decisão do Governo socialista de nacionalizar a Efacec em 2020, salientando que, nessa altura, após o Luanda Leaks, a empresa "viu-se arrastada para os processos judiciais que envolviam a sua principal acionista", Isabel dos Santos, e o Governo decidiu avançar com a sua aquisição devido à "iminência do desaparecimento" de uma empresa "com mais de 2.500 trabalhadores, com cerca de 100 anos de história e um papel essencial" na transição digital e energética.
Reconhecendo que "nem tudo correu bem" nessa gestão pública, Pinotes anunciou que o PS votará contra a proposta da IL, "porque todos os objetivos enunciados foram total ou parcialmente cumpridos", porque a empresa está melhor e "porque a atuação da tutela dos antigos governantes é facilmente escrutinável".
Já o deputado do BE José Soeiro disse que o seu partido está "a favor que o parlamento faça um inquérito e que todas as informações sejam conhecidas, que haja escrutínio e debate, incluindo sobre as responsabilidades dos acionistas e da gestão privada".
Pelo PCP, o deputado António Filipe considerou que a iniciativa da IL se "insere numa campanha de ataque permanente ao setor público empresarial" e pediu que sejam aditados alguns pontos à proposta, como "esclarecer o exercício e as responsabilidades da gestão do grupo pelos acionistas" ou a "real situação financeira do grupo aquando da intervenção do Estado".
A líder parlamentar do Livre Isabel Mendes Lopes considerou que a nacionalização saiu cara aos contribuintes, mas questionou se teria sido preferível deixar a empresa falir em 2020, enquanto a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, anunciou que votará a favor do inquérito.
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