O líder do Chega, André Ventura, revelou, esta quinta-feira, que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, ofereceu um acordo ao partido para viabilizar o Orçamento do Estado para 2025.
"O senhor primeiro-ministro disse que o Chega não era um parceiro confiável, que nunca contou com o Chega e que o Chega foi arredado das negociações", começou por referir em entrevista à CNN Portugal, acrescentando que as declarações de Luís Montenegro são falsas.
"O país tem de saber que isto é falso. O primeiro-ministro negociou com o Chega, quis negociar com o Chega e até digo mais: frente a frente com o primeiro-ministro, ele propôs-nos um acordo para este ano. E o país tem de saber", enalteceu.
O líder de extrema-direita disse que a proposta aconteceu "nas últimas três semanas", inclusivamente na última reunião entre o primeiro-ministro e o Chega, a 23 de setembro. No entanto, disse Ventura, esse acordo "não foi aceite" pelo Chega porque só aceitaria um acordo a quatro anos, para a legislatura.
Segundo o político, "o primeiro-ministro estava disposto que, lá para a frente, o Chega viesse a integrar o Governo". "Nós não somos para descartar e eu represento um milhão e 200 mil eleitores que não estão aqui para bastidores", atirou.
Acusando Montenegro de "mentir ao povo português", Ventura explicou que o "acordo admitia que o Chega viesse a fazer parte do Governo".
"Eu não aceito que Portugal tenha um primeiro-ministro que venha dizer uma coisa para espezinhar um partido que eu represento e, ao mesmo tempo, tente fazer jogo duplo com o Partido Socialista (PS) para que um ou outro viabilize um Governo que ele sabe que em 2025 não pode cair", atirou.
Ventura disse reconhecer a "gravidade" das suas afirmações, mas defendeu que "está farto" que o seu partido seja "espezinhado". "Eu entrei de boa fé em conversações e o primeiro-ministro optou por outra coisa: esconder o Chega, dizer que com o Chega 'nunca na vida', mas ficar à espera da viabilização do Chega", acrescentou.
"Isto tem um nome: é mentira e fraude", atirou. "O Governo sabia que connosco as suas prioridades orçamentais teriam de ser todas invertidas e optou por fazer jogo duplo".
André Ventura disse, ainda, que o Governo "escolheu dois parceiros" para a viabilização do Orçamento do Estado: "um público (PS) e um privado (Chega)". "Andou a fazer um jogo público e andou a fazer um jogo privado. Isso é negativo e é falso e não deve acontecer em democracia", afirmou.
Em causa está o facto de o primeiro-ministro ter afastado, numa entrevista na noite de terça-feira, qualquer negociação do Chega, dizendo que se comportou "como um catavento".
"A questão diferente é haver qualquer negociação entre o Governo e o Chega, porque isso está afastado de todo. Isso não vai acontecer, não é possível haver um diálogo produtivo com quem muda de opinião tantas vezes, com quem se transformou num catavento nesta discussão do Orçamento do Estado e, portanto, não se apresentou à altura sequer de poder negociar com o Governo", afirmou Luís Montenegro.
Já de acordo com André Ventura, o Chega "fez questão de evitar uma crise política" e quando recebeu a proposta do Orçamento do Estado, esta quinta-feira, "teve a preocupação de contactar o Governo para dizer que este OE foi negociado com o PS" e que, caso o documento fosse mudado, "tudo faria para evitar uma crise política".
Questionado sobre a sua votação, André Ventura foi taxativo: "Este Orçamento não é nosso e nós não daremos aval a este Orçamento".
"Quem é que disse 'não é não' ao Chega? Luís Montenegro. Quem é que disse 'não é não' a um acordo de legislatura? Luís Montenegro. Quem é que disse 'não é não' às propostas orçamentais do Chega? Luís Montenegro. E depois disto tudo, o Chega tem de viabilizar o Orçamento. Acha que isto faz sentido?", questionou.
Corrida a Belém? "Estou muito focado em ser primeiro-ministro de Portugal"
Sobre as eleições presidenciais de 2026, Ventura adiantou que não tomou "nenhuma decisão" sobre se será ou não candidato, frisando que está "muito focado em ser primeiro-ministro de Portugal".
Disse ainda que o social-democrata Luís Marques Mendes "nunca" terá o apoio do Chega porque a sua "trajetória" foi sempre a "de um político mais próximo do Partido Socialista do que outra coisa". "Luís Marques Mendes é um político do centro, do centro de interesses em que vivemos", atirou.
Já o almirante Gouveia e Melo "seria um candidato bom porque foge ao sistema", tal como Pedro Passos Coelho, que seria também "um bom candidato".
[Notícia atualizada às 21h42]
Leia Também: Itália prolonga estado de emergência migratório por mais seis meses