"Abraço ao Chega"? As reações à comunicação do "xerife" Montenegro

Da Esquerda à Direita, as críticas à conferência de imprensa do primeiro-ministro não tardaram. A exceção? O Chega.

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© PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP via Getty Images

Daniela Filipe
28/11/2024 09:06 ‧ há 6 dias por Daniela Filipe

Política

Governo

O primeiro-ministro anunciou, na noite de quarta-feira, um reforço de meios destinado às forças de segurança, numa conferência de imprensa marcada por poucas questões por parte dos órgãos de comunicação social e por pouca "substância". Quem o disse foi a generalidade as personalidades políticas nacionais, que apontaram que Luís Montenegro virou "xerife". A exceção foi o líder do Chega, André Ventura, que realçou que o chefe do Executivo deu "razão" ao seu partido.

 

"Depois de negar e fingir que não havia insegurança em Portugal, finalmente o primeiro-ministro parece ter percebido que o Chega tinha razão e é preciso mais meios para as polícias e mão dura com os bandidos. Demorou!", escreveu o presidente do partido populista de direita radical, na rede social X (Twitter).

Ainda assim, esta foi, ao que tudo indica, a única reação positiva à comunicação do chefe do Governo que, na sequência de uma reunião de cerca de uma hora com a ministra da Justiça, Rita Júdice, a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, o diretor nacional da Polícia Judiciária, o comandante-geral da Guarda Nacional Republicana (GNR), o diretor nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP) e o secretário-geral adjunto do Sistema de Segurança Interna, se dirigiu ao país, pouco depois das 20h00, para abordar precisamente esse tema: a segurança do país.

Na ótica do presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, "que as polícias façam o seu trabalho com operações que, com respeito de liberdades e garantias, promovem segurança não é, ao contrário do que diz a Esquerda, criticável". Mas, ressalvou, "que o primeiro-ministro utilize horário nobre para fazer o trabalho que cabe à direção das polícias é incompreensível", escreveu, no X.

O antigo líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, foi mais longe nas críticas, tendo comparado a conferência de imprensa de Montenegro com "uma inauguração de uma iluminação de Natal, em direto nas televisões, em que o primeiro-ministro carrega no botão e nenhuma luz se acende".

"Esta comunicação teve muita pose e pouca substância. Creio que este primeiro-ministro tem uma obsessão em querer estar constantemente na crista da onda, em dominar a narrativa política e em ser um narrador de factos para dominar a agenda mediática. Estava a ser relativamente ultrapassado no tema das presidenciais, em que o seu próprio partido não tem conseguido fazer uma afirmação do candidato implícito ou explícito que já declarou ao país", considerou, na CNN Portugal.

Francisco Rodrigues dos Santos salientou ainda que Montenegro "não andou bem na última semana, ao apresentar uma consciência pessoal que é contrariada pelos números, relativamente à violência doméstica contra as mulheres, que é explícita e um flagelo social no nosso país e no quadro europeu", pelo que "quis tapar um bocadinho a ação da ministra da Administração Interna, que é um parente pobre deste Governo e que, para se fazer boa figura na área, é preciso escondê-la, anunciando 20 milhões que poderiam perfeitamente ter sido anunciados amanhã, na sequência do Conselho de Ministros".

"Há aqui uma tentativa de colagem, como este Governo é muito perito, – lembro-me daquela viagem no Douro, quando jaziam por baixo os corpos das vítimas e o primeiro-ministro aparecia com a Proteção Civil –, em associar-se a este desmantelamento de duas redes criminosas internacionais a montante da operação Portugal Sempre Seguro. Este aparato parece-me escusado, é excessivo e demonstra alguma dificuldade que o Governo tem em liderar o discurso político nacional", realçou ainda.

Alguém no PSD devia avisar Luís Montenegro que o cargo que exerce não é o de xerife, mas o de primeiro-ministro de Portugal

"Acha que não percebemos que esta declaração inédita, em que mais uma vez troca factos e números por perceções, serve o seu abraço ao Chega?"

No entanto, a Esquerda também não poupou farpas à intervenção do chefe do Executivo. Se o deputado o Livre, Paulo Muacho, apontou que "alguém no PSD devia avisar Luís Montenegro que o cargo que exerce não é o de xerife, mas o de primeiro-ministro de Portugal", o deputado do PCP, António Filipe, optou pela ironia. "Durmam tranquilos. Hoje assumiu funções o xerife Montenegro", escreveu, no X.

 

Por seu lado, o socialista Tiago Barbosa Ribeiro atirou que "Luís Montenegro fez uma ‘comunicação ao país’ sem nada para comunicar".

"Transformou uma investigação criminal em palco político, ordenou campanhas policiais para manipular medos e insiste em perceções desmentidas pelos números. Um primeiro-ministro em campanha permanente, a invadir funções que não são suas e a fabricar alarmismo para mascarar o seu vazio", disse, no X.

Já o militante socialista Álvaro Beleza indicou, no seu espaço de comentário na CNN Portugal, que "o primeiro-ministro não deve fazer uma comunicação formal com esta pompa ao país para anunciar 20 milhões de euros para as polícias", uma vez que, agora, "vai ter de fazer todos os dias conferências de imprensa a anunciar [medidas] para as escolas, para os hospitais, para o que for preciso".

"O que salvou o primeiro-ministro foi que o Benfica jogou e ganhou, e acho que os portugueses estiveram a ver o jogo. Os tempos que vivemos é para sobriedade, não é para truques, nem para marcar agenda. O Governo não tem de se preocupar com isso, ou não deve; tem de se preocupar em fazer o que tem de ser feito para melhorar a vida das pessoas, não prometer mundos e fundos, como o que aconteceu", complementou.

O dirigente do Partido Socialista (PS) realçou ainda que, como "Portugal é um dos países mais seguros do mundo, não faz sentido uma apresentação formal ao país sobre segurança".

"Há outros assuntos em que estamos pior, muito pior. O primeiro-ministro, se continuar por aqui, acho que não vai bem. Ter medo de sondagens também não é bom conselheiro. Correu tudo mal. Não devemos ceder à agenda da extrema-direita", rematou.

Também a socialista Isabel Moreira salientou, na rede social X, que "o primeiro-ministro não é um xerife". Na rede social ‘ao lado’, a deputada pediu que Montenegro explicasse "o que significa o Estado de direito".

"Quando há uma crise no INEM com as consequências conhecidas, não vê razões para falar ao país. Ontem, ao mesmo tempo que, pela segunda vez, assegurou que somos um dos países mais seguros do mundo, fez isto. O senhor primeiro-ministro decidiu rodear-se deste aparato para nos falar das 'perceções de insegurança' que o levam a anunciar operações policiais jamais vistas. Portanto: eu vivo num dos países mais seguros do mundo, mas como posso ter outra 'perceção' o senhor primeiro-ministro instrumentaliza as forças de segurança para eu sossegar. Percebe a falácia?", questionou, no Facebook.

E enumerou: "Acha que não percebemos que esta declaração inédita, em que mais uma vez troca factos e números por perceções, serve o seu abraço ao Chega? Acha que não entendemos que quando ouvimos do Governo e daquele partido que está a imitar insinuações sobre imigração e insegurança o que está a fazer é a instrumentalizar as forças de segurança em prol da sua estratégia populista?"

Isabel Moreira questionou ainda onde se encontra a "ética republicana" de Montenegro, o "apego pelo Estado de direito" e o "respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos".

"Vale tudo? Vale mesmo tudo? Provocar precisamente o contrário da ‘sensação’ de segurança com operações dessa escala normalizadas? O senhor primeiro-ministro não tem máscara para cair. Porque nunca a teve", lançou.

Sublinhe-se que, na comunicação de ontem, o chefe do Governo fez o ponto de situação da operação Portugal Sempre Seguro que, desde 4 de novembro, resultou no desmantelamento de "duas redes criminosas no âmbito da imigração ilegal e do tráfico de pessoas".

O responsável salientou ainda que, apesar de ser um país seguro, Portugal não pode "viver à sombra da bananeira" em matéria de segurança, e reiterou total confiança no "trabalho excecional" da ministra da Administração Interna.

Anunciou, além disso, que o Governo aprovará no Conselho de Ministros desta quinta-feira uma autorização de despesa de mais de 20 milhões de euros para a aquisição de mais de 600 veículos para a PSP e GNR.

Leia Também: Balanço, segurança e "20 milhões" para PSP e GNR. O que disse Montenegro?

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